Pesquisa Bibliográfica
- Freire-Medeiros, Bianca
O artigo examina alguns dos caminhos em que a cidade do Rio de Janeiro, de 1930 a 1950, foi representada no cinema Norte Americano. Argumenta que quando o foca a cidade do Rio de - este lugar mítico aonde a cultura e natureza, modernidade e tradição, a herança Latina e Africana convergem -, Hollywood opera dentro de uma forma na qual a invenção, a substituição e a incorporação de brasileiros (e latino anericanos em geral) podem ser examinados de um modo privilegiado. Analisa quatro musicais com a intenção de responder a duas questões básicas: são as imagens produzidas contraditórias, ou são simplesmente pivô de atitudes diferentes no mesmo eixo de construção de Latinos Americanos (e Latinos/as) e das outras? De quais condições econômica, social e política essas representações surgem?
- Stringini, Daniel
Neste artigo, abordo os discursos sonoros através dos quais músicos haitianos têm tensionado determinadas narrativas estabelecidas na sociedade brasileira. Em diálogo com experiências performáticas, e assinalando o quanto as recentes movimentações sônicas haitianas têm desafiado nossa imaginação política, situo o sonoro enquanto um lugar de prática e negociação de novos pertencimentos e um lugar possível para que cidadanias insurgentes sejam experimentadas ou reivindicadas.
- Costa, Ypuan Garcia
Esta tese, que provém de pesquisa etnográfica realizada entre os anos de 2013 e 2016 com um coletivo de cristãos que se concentram em um grupo de oração e uma comunidade católica na cidade de São Paulo/SP, tem como eixo o tema da libertação. O problema a que a tese se dedica é descrever um modo de existência no qual libertar não é se afastar, se separar, se emancipar, mas se vincular, se aproximar e se comprometer cada vez mais fortemente com deus. Com base nas experiências desses católicos, proponho que a libertação não é um evento, mas a manutenção da caminhada com deus. Em suma, trata-se de um percurso que não visa à liberdade e à autonomia do indivíduo, mas sim à aliança com a divindade. Esta incita a violência do demônio, que busca abrir uma brecha na abertura para deus que é própria da libertação. A consideração do caráter comungatório da relação com a divindade e da oposição demoníaca a esse vínculo constitui o fio condutor da etnografia, que analisa suas reverberações nas seguintes instâncias: nos modos de falar; na filiação a deus e em suas consequências no parentesco humano; na cura de mal-estares variados; nos modos de se relacionar com outras pessoas por meio da caridade; e na inevitabilidade da proliferação de intenções desconhecidas nos objetos que fazem parte do dia-a-dia. Todas elas me levam a postular que a onipresença de deus (que está em tudo) e a quase onipresença do demônio (que pode estar em tudo) só são possíveis em um mundo cuja qualidade fundamental consiste em ser aberto.
- Freire, Jussara
- Santos, Andreia Cesar dos
Na noite de 19 de março de 2006, o documentário Falcão: Meninos do Tráfico aparecia na grande mídia pela primeira vez. Sua proposta era desvelar a vida de jovens integrantes do tráfico de drogas a partir da fala dos mesmos. Esta dissertação examina as condições de produção do projeto Falcão, situando-o no contexto mais amplo do debate contemporâneo sobre violência urbana e segurança pública no Brasil, e analisa como jovens moradores de uma favela carioca percebem e interpretam os principais argumentos apresentados por este projeto
- Bocchi, Gabriel Moreira Monteiro
Neste relato de campo, elaborado a partir de etnografia realizada por mim em interação com os integrantes de uma banda de rock da cidade de São Paulo, o Dance of Days, em que estive em shows desta banda entre fevereiro e junho de 2014, em locais de características distintas entre si, na cidade de São Paulo. A partir destes eventos, do diálogo com distintos sujeitos deste campo e de entrevista realizada com um dos membros da banda, aciono a categoria analítica circuito com as categorias nativas banda independente e do it yourself, realizando alguns apontamentos sobre as estratégias desta banda para se manter em atividade constante.
- Tonini, Marcel Diego
Este artigo apresenta algumas reflexões iniciais da minha pesquisa de doutorado, que versa sobre a e/imigração de futebolistas brasileiros e o racismo no futebol europeu a partir de 1987. Valho-me, para tanto, de alguns excertos de uma entrevista que realizei com o ex-atleta Paulo Sérgio Silvestre do Nascimento, destacando e discutindo os seguintes temas: ida, adaptação, relacionamento profissional e experiências diversas vividas na Europa; retorno ao Brasil e readaptação cultural; e racismo e situações pessoais de discriminação. Ao final, faço considerações sobre o trabalho com histórias de vida e concluo dizendo que os ex-futebolistas, tomando por base a vivência na Europa, tendem a fazer uma avaliação positiva das relações raciais no Brasil, bem como das nossas identidades culturais.
- Almeida Filho, Paulo Gomes de
- Zanoli, Vinícius Pedro Correia
Esta pesquisa contribui para o conhecimento acerca de ações coletivas no Brasil contemporâneo a partir da análise das articulações entre estruturas de oportunidades, enquadramentos políticos, redes de relações e repertórios de atuação de ativistas. A etnografia focaliza as relações estabelecidas ao longo de 20 anos por um grupo ativista, o Aos Brados!!. Desde Campinas, metrópole situada no interior do estado de São Paulo, o grupo atua na intersecção entre movimentos LGBT, negros, populares e de periferia. Esse olhar para as relações situa a trajetória do grupo e a dos atores com os quais se relaciona frente a mudanças que se dão, em âmbito nacional, na estrutura de oportunidades – permeabilidade do Estado a demandas oriundas de movimentos sociais e desenvolvimento de ferramentas de participação socioestatal, reconhecimento estatal, democratização da internet e do acesso ao ensino superior – e nos enquadramentos produzidos no interior dos campos discursivos de ação que articulam diversos movimentos sociais. Além disso, analisa, por meio da trajetória do grupo Aos Brados!! e de sua principal liderança, o modo como tais atores produzem, no cotidiano da política em âmbito municipal, apostas políticas que acionam determinados repertórios de atuação. A etnografia mostra os vínculos entre estruturas de oportunidades, repertórios e enquadramentos, mas salienta a importância das redes de relações em fazer circular convenções e repertórios que resultam nas apostas políticas efetivamente empreendidas pelo grupo. A metodologia articula observação participante, análise documental e entrevistas em profundidade. A fim de evitar delimitações arbitrárias da rede de relações, o procedimento adotado foi seguir as relações da mais antiga e conhecida liderança do grupo, o que possibilitou atravessar fronteiras entre porções de uma teia constituída por relações entre atores políticos tão variados quanto gestores de políticas públicas, vereadores, sindicatos, partidos políticos, casas de cultura, clubes sociais, coletivos jovens, terreiros de umbanda e candomblé e ONGs, e que atuam em temáticas diversas, mobilizando repertórios distintos.
- Fernandes, Raquel Brum
Estudos sobre grupos jovens de camadas médias do Rio de Janeiro têm já há alguns anos indicado que a construção das identidades nesses grupos não se dá de forma imediata ou definitiva. Suas trajetórias seriam, ao contrário, formadas por momentos, “cenas”, alternâncias e combinações em diversas áreas como os relacionamentos amorosos e as práticas de lazer. No que diz respeito às análises sobre as juventudes cariocas de camadas populares, entretanto, especialmente as faveladas, são constantemente destacadas as peculiaridades da vida social em territórios de pobreza, especialmente naqueles “governados” por organizações traficantes, que acabariam assumindo um papel determinante na trajetória biográfica desses jovens. Tal reflexão tem incitado, já há vários anos, o desenvolvimento de iniciativas que buscam “orientar” jovens pobres na construção de trajetórias biográficas consideradas legítimas. Assim, surgiram os “projetos sociais”, os quais se multiplicaram pelas áreas carentes da cidade (especialmente favelas e que possuem maior atenção midiática) objetivando oferecer “outras expectativas” e perspectivas de vida aos jovens favelados. Dentro da proposta das Unidades de Polícia Pacificadora, que pretende promover a devolução das favelas ao Estado e do Estado às favelas, o desenvolvimento desses “projetos sociais” destinados às juventudes carentes, ganha uma importância ainda maior, já que a sedução desses jovens por atividades lícitas e educativas, seria fundamental para que a “pacificação” se efetivasse. Minha pesquisa se desenvolveu nas favelas que compõem o chamado “Complexo do Andaraí/Grajaú” e buscou compreender o lugar atribuído aos jovens locais pelos gestores dos “projetos sociais” que se desenvolveram no território como complemento e sequência à instalação da UPP. Procurei também evidenciar as relações dos referidos jovens com tais projetos e a percepção sobre a importância atribuída a sua categoria para a consolidação da política de segurança. De forma geral, o que a análise das entrevistas com os jovens revelou foram projetos de futuro incertos, que podem incluir a construção de carreiras formais e socialmente valorizadas em áreas como medicina ou direito, sem que isso implique em planos em curto prazo de retornar à escola ou fazer vestibular. Quanto ao envolvimento dos jovens nos “projetos”, muitos dizem gostar de frequentar as aulas e atividades, mas apenas em alguns casos isso parece despertar ou influenciar planos profissionais em longo prazo. Quanto às entrevistas com gestores dos projetos, destacou-se uma inquietação dos mesmos em relação ao não interesse da juventude das favelas do Andaraí/Grajaú em participar das atividades. Esse desinteresse seria, segundo os gestores, problemático em si mesmo, sem necessariamente significar um envolvimento dos jovens com atividades criminosas. Evidenciou-se uma falta de percepção por parte dos “projetos sociais” dos diversos (des) interesses e escolhas operados também pelos jovens das camadas populares.
- Frangella, Simone Miziara
- Almeida Junior, Jose Simões de
O objetivo da pesquisa foi realizar uma reflexão crítica sobre o espaço teatral na cidade de São Paulo, pelo viés da Geografia, no período de 1999 a 2004, utilizando como referenciais teóricos Anne Ubersfeld e Milton Santos. O tema foi investigado a partir da hipótese de que a natureza do lugar teatral é ser um agente, uma espécie de mídia definidora do processo teatral, em sua relação com as políticas culturais do período (Lei de Incentivo à Cultura, Lei do Fomento ao Teatro e implantação de salas de teatro nos CEUs), e com os Guias de Teatro da cidade (jornais Folha de São Paulo e o Estado de São Paulo). Foi elaborado um banco de dados com informações acerca desses lugares e da sua relação com os respectivos Guias de Teatro, na cidade de São Paulo, no período de 1999 a 2004. O lugar teatral revelado na cartografia que surgiu das informações desse banco de dados caracterizou-se como múltiplo; fortemente ligado ao distrito central da cidade; com tendência à polarização entre as salas pequenas e grandes; forte ação do teatro de grupo na criação de novos espaços; e propriedade, na sua maioria, privada. A partir destes dados, discutiu-se a crise do edifício teatral e a importância da atividade Teatro se vincular social e culturalmente ao lugar geográfico. Definiu-se, o lugar teatral pela noção de uso - na forma de um território vivido - e não pela arquitetura do edifício que ocupa.
- Streapco, João Paulo França
Nos últimos anos, os estudos sobre a prática do futebol no Brasil se avolumaram em diversas áreas do saber. Compreendido como um fenômeno de largo alcance social, o futebol que antes era desprezado pela intelectualidade, tornou-se espaço privilegiado para a compreensão de diversos fenômenos sociais correlatos. Não obstante ao desenvolvimento dessas pesquisas, diversas fontes documentais produzidas pelo universo futebolístico ao longo do século XX, ainda não tinham sido analisadas com rigor sistemático. Assim, esse trabalho ao se inserir em um contexto de renovação historiográfica denominada Nova História Cultural, busca compreender algumas facetas da sociedade paulistana que estiveram presentes em seus principais campos, equipes e estádios de futebol no período estudado (1894-1942). A formação de um circuito de praticantes e simpatizantes, a intervenção do poder público, a construção de campos e estádios, o surgimento dos três principais clubes de futebol da cidade, as disputas pelo controle das rendas geradas pelo espetáculo e sua profissionalização, mostraram-se como excelentes fontes documentais para a compreensão da complexidade do processo de modernização ocorrido em São Paulo e suas consequências para seus habitantes, no período abarcado pela pesquisa.
- Silva, Adriano Queiroz da
Os estudos de gênero têm trazido importantes contribuições sobre as questões sociais de sexo e sexualidade. Neste amplo cenário de debate que envolve as reflexões acerca de desigualdades, lutas por direitos e reconhecimento, os estudos feministas desvelaram que “questões de gênero” não querem dizer “estudos sobre mulher” e sim produções, tensões sociais e culturais em torno do sexo/gênero, feminino/masculino e mulher/homem, propondo a desnaturalização destes conceitos e seus desdobramentos. Sendo assim, esta pesquisa trata das masculinidades não hegemônicas com recorte específico em homens cisgêneros parceiros sexuais e/ou afetivos das travestis e transexuais de São Paulo e região metropolitana. Foram mapeados grupos de Facebook, observados grupos de WhatsApp e realizadas entrevistas usando questionário semiestruturado, tanto pessoalmente quanto online, com foco em dois eixos principais: a) as narrativas e b) relações sociais e visibilidade. Esta pesquisa teve como objetivo verificar como os homens cisgêneros entrevistados têm construído e lidado com suas masculinidades diante do desejo sexual e das relações afetivas com as travestis e mulheres transexuais e analisar masculinidades não hegemônicas e/ou marginalizadas; analisar heterossexualidades não hegemônicas e conhecer contexto de sociabilidade.
- Pasini, Elisiane Nelcina
- Silva, Katiene Nogueira da
Como a prática de uso dos uniformes escolares se configurou nas escolas públicas do estado de São Paulo entre os anos de 1950 a 1970? Este trabalho procura contribuir para a compreensão do modo pelo qual os uniformes escolares foram retratados pela imprensa educacional, seja mediante artigos assinados por autores prestigiados pelo campo, seja pelas propagandas que intercalavam os textos em questão. Pretende ainda examinar a percepção dos alunos acerca dos uniformes escolares por meio do estudo do jornal escolar e as prescrições relacionadas ao uso deste vestuário nos manuais pedagógicos. Além disso, a legislação educacional vigente no período estudado complementa a análise. O período estudado compreende a época de expansão da escola pública no estado de São Paulo, quando as oportunidades de educação pública passaram a estender-se a significativas parcelas da população que antes estavam à margem deste processo. Busca-se com esta pesquisa identificar como a obrigatoriedade material de uso dos uniformes acompanhou a oferta de vagas à população mais carente de recursos. Ainda foi necessário buscar compreender um quadro geral acerca da história da educação no Brasil no período, de modo a conhecer os eventos que marcaram a história nacional e acabaram por influenciar as políticas públicas educacionais. O trabalho está dividido em três partes: a primeira parte é composta pela "Apresentação", na qual são descritos os objetivos da investigação e por um primeiro capítulo intitulado "Modos de Produção do Trabalho", em que são apresentadas as fontes consultadas e a forma como as mesmas foram exploradas e incorporadas ao estudo. A segunda parte traz considerações acerca da história da educação e elementos acerca da história do vestuário, constituindo o capítulo II. A terceira parte apresenta a análise do uniforme escolar enquanto objeto de estudo histórico a partir do exame das fontes e é constituída por quatro capítulos: III "Decentemente trajados e com asseio"; IV "Criança Calçada, Criança Sadia!"; V "A professora não deve ir para a aula nem vestida de 'andar em casa', nem como se fosse para uma festa"; VI "Deveres do bom aluno: capricho, ordem e limpeza"; e um esforço de síntese busca retomar os principais elementos explicativos a que se chegou, sob a forma de "Considerações finais".
- Leal, Eduardo Martinelli
- Santos, Rosana Aparecida Martins
Tomando como ponto de partida os agrupamentos juvenis no cenário contemporâneo, este estudo discute a cena urbana atual e as políticas públicas endereçadas aos jovens, através da dinâmica comunicacional marcada pelos membros da Aliança Negra Posse e Núcleo Cultural Força Ativa, ambos pertencentes ao distrito Cidade Tiradentes, zona leste da cidade de São Paulo. Este estudo tem como foco central à análise das formas estabelecidas pelos jovens periféricos em relação ao espaço de sociabilidade e às formas de representação. Ou seja, de que forma os membros expressam as saídas para os diversos conflitos presentes no cotidiano, e como cristalizam a idéia d renovação do espaço e das próprias relações sociais.
- Mauricio Bacic Olic
- Albernaz, Elizabete Ribeiro
Gerada no âmbito do conturbado relacionamento entre a polícia e as camadas pobres urbanas cariocas, fortaleceu-se no debate público sobre segurança uma concepção de mal como anomalia social, um lugar ocupado hoje majoritariamente pela figura do tráfico de drogas e da violência urbana em geral. Em um campo semântico altamente maniqueísta, o traficante encarnaria o poder nefasto e desagregador das forças do mal, que estabelecem o caos social, em oposição encontrar-se-iam os policiais, representantes dos esforços do bem em restabelecer a ordem pública. Na prática, entretanto, sabe-se que essas dicotomias não se sustentam com clareza, servindo apenas para polarizar discursos e atitudes em torno do tema. Analisando as políticas de segurança pública adotadas pela gestão estadual desde 1983, pode-se perceber que a demonização do crime tem sido utilizada como embasamento ideológico para uma série de violações perpetradas contra segmentos marginalizados da sociedade, como os moradores de favelas e periferias. As ações arbitrárias e violentas da polícia acabam sendo legitimadas pelo medo de uma sociedade que erigiu a segurança pública como um fim em si mesmo, independente dos meios e custos humanos. Para os policiais militares evangélicos, o imperativo de trilhar o caminho da salvação em um campo impregnado de maniqueísmos tende a submeter os sujeitos a um amplo espectro de tensões entre suas opções religiosas e condutas profissionais concretas. Os riscos, perigos e tentações do cotidiano do policiamento apresentam-se para estes atores como reflexo da guerra ontológica entre as milícias celestes e as odes demoníacas, cujos desdobramentos atualizar-se-iam nas escolhas sobre os procedimentos adotados em cada ocorrência concreta atendida. Revelada pela conversão, essa realidade transcendente parece informar a construção de padrões éticos evangélicos de atuação policial, em que os conflitos cotidianos são encaminhados como expressões visíveis da influência nefasta do demônio, responsável pelo crime, devassidão e toda sorte de comportamentos socialmente reprováveis.