No "tempo certo", sobre duas rodas: um estudo sobre a formação e exploração dos motofretistas de Campinas-SP

Esta pesquisa se dedicou a estudar o processo de formação dos motofretistas de Campinas-SP enquanto parte da classe-que-vive-do-trabalho hoje, haja visto sua importância para o processo de reprodução do capital em sua atual fase de acumulação flexível. Mediante a aplicação da metodologia da história oral, a análise das experiências de um pequeno universo de motofretistas entrevistados permitiu identificar três principais determinações deste processo de formação: as migrações que forneceram força de trabalho para a Região Metropolitana de Campinas (RMC), o domínio de mercado da indústria automotiva no desenvolvimento dos transportes no Brasil e a reestruturação do capital e flexibilização do trabalho a partir da última década do século XX. Por sua vez, foi a análise do processo de trabalho dos(as) motofretistas que apontou para a articulação não só de formas de exploração do trabalho características do padrão de produção taylorista-fordista, com as novas formas introduzidas pelo padrão toyotista, como também apontou para a instrumentalização de elementos das identidades de sexo/gênero. Deste modo, buscou-se demonstrar que essas formas de exploração e de dominação, que se articularam à trama histórica da precarização do trabalho no Brasil, impulsionam esses trabalhadores a uma pilotagem arriscada de suas motocicletas nas trincheiras da cidade, repercutindo em um amplo quadro de sofrimento físico e psíquico.