Requalificação Urbana em Área Periférica: o impacto no ambiente construído e na saúde da população

O presente trabalho aborda a avaliação do impacto do projeto de requalificação urbana implementado na Baixa do Câmarajipe, assentamento humano da periferia urbana da cidade do Salvador com 4.000 habitantes, implementado entre os anos de 1993 e 1997, onde foram executadas ações de saneamento ambiental e de moradia, segundo os princípios de ações integradas e de participação popular. A metodologia da pesquisa pretendeu superar o forte enfoque quantitativo dos métodos de avaliações, incorporando técnicas de avaliação qualitativa. A avaliação contemplou quatro campos de análise: ambiente urbano - imagem urbana, uso e funções do espaço, moradia, saneamento, infra-estrutura e serviços urbanos; saúde ambiental, aspectos institucionais e de gestão e desenvolvimento comunitário. Foram utilizados diversos instrumentos de pesquisa tais como: questionários, entrevistas, grupos focais, observações no espaço, coleta de amostras de fezes de crianças de 7 a 14 anos, verificação de casos de diarréia e do estado nutricional de crianças menores de 3 anos, análises da qualidade bacteriológica da água de consumo, dentre outros. Alguns resultados podem ser destacados: melhoria significativa na salubridade ambiental, apesar da qualidade da água consumida pela população não ter melhorado; impacto positivo na saúde da população; satisfação dos moradores com as intervenções de saneamento e habitação. O processo participativo promoveu a capacitação da população, embora não se tenha observado a ampliação da capacidade crítica sobre a pobreza. Por outro lado, ocorreu um novo arranjo na organização social local, com a ampliação de seu campo de ação. Alguns dados sugerem interferências positivas do projeto na auto-estima da população e na violência local, atribuídas à melhoria da imagem do lugar e aos processos participativos, principalmente, dos mutirões para a construção de moradias. A localidade antes vista como um espaço insalubre, marginal, com contornos típicos de invasão, passa a ter uma imagem de bairro, passível de ser incorporada à cidade legal. As vias que antes serviam para o lançamento de esgoto a céu aberto e lixo, passaram a ser apropriadas como espaços de lazer e convívio. Os antigos becos e caminhos se integraram ao novo sistema viário, abrindo o bairro para os seus moradores e para a entrada dos serviços essenciais, como a coleta de lixo e a distribuição de gás, dentre outros. O bairro enfim, abre-se para a cidade, torna-se mais digno, interferindo positivamente na auto-estima de seus moradores. Estes moradores, por outro lado, passam a incorporar novos discursos para continuar a manter contatos com outros atores sociais na busca de novas melhorias, as quais chegam a cada momento, a exemplo da quadra de futebol e das obras de macro-drenagem. Enfim, traços de cidadania são percebidos apesar do longo caminho a ser trilhado.