Trata dos engenheiros como grupo diretamente atuante na construção de um discurso que afirma a confiança no progresso como guia para regeneração da sociedade brasileira. O programa social de modernização estabelecido no Brasil na virada do século teve como sustentação ideológica as idéias positivistas que relacionavam o progresso, a ciência e a indústria, e investiam os cientistas da missão moral de conduzir a humanidade. No estudo do positivismo politécnico, é analisada a maneira pela qual a atividade científica se efz representar na sociedade brasileira valorizada como prática social específica, sob a égide de uma concepção de ciência construída em referência aos princípios comtianos. A institucionalização do ensino da engenharia marcou a década de 1870, destacando-se a criação da Escola Politécnica do Rio de Janeiro pelo Visconde do Rio Branco. Abriam-se os horizontes profissionais para a engenharia civil em face das novas demandas sociais oriundas do surto econômico da cultura cafeeira, do conseqüente crescimento urbano e sobretudo da expansão da rede ferroviária. A penetração das idéias de Comte nos cursos da Politécnica ocasionou a emergência de uma elite científica que, afirmando o carárter disciplinado e pragmático do seu saber específico, se opunha aos valores do passado, identificados na cultura livresca do grupo intelectual dominante dos bacharéis, declarando-os impotentes diante da complexidade do presente. Mobilizando-se pelo reconhecimento social da profissão de engenheiro e advogando as qualidade modernas de seu pensamento, os membros dessa nova elite intelectual reinvindicavam para si a direção legítima do processo político e social de modernização, pretendendo reeducar a sociedade por meio da ciência e estabelecer uma direção moral afinada com os seus interesses dominantes. O movimento de crítica ao positivismo questionou o seu caráter marcadamente utilitarista, propondo um novo projeto intelectual baseado na pesquisa pura, em nome da liberdade ilimitada da ciência. Denunciava-se um ensino privilegiador da ciência aplicada em detrimento da formação desinteressada voltada para a produção de conhecimentos originais. Com o objetivo de incentivar a produção e a difusão de estudos científicos de cunho original, foi fundada a Academia Brasileira de Ciências que não foi, entretanto, impermeável ao positivismo, pois os próprios positivistas foram sujeitos do processo de legitimação da instituição. O discurso pela independência cultural que mobilizava setores da intelectualidade brasileira desta época se traduzia entre os cientistas na campanha que levou à criação das universidades brasileiras a partir da década de 1930. Porém, a influência positivista se manteve presente, renovada de acordo com os rumos assumidos pelo processo de valorização da ciência neste momento. Os princípios da filosofia social e histórica de Comte permaneceram recorrentes, destacando-se a identificação do cientista como tipo social superior, normalmente comprometido com a civilização da sociedade e depositário da vocação para conduzí-la rumo ao progresso. Essa leitura do positivismo foi um suporte ideológico para a afirmação de uma ordem social burguesa no Brasil. Legitimados pela racionalidade positiva do saber científico, os engenheiros reconstruíam e normatizavam o espaço social, enquadrando a topografia urbana nos trilhos deste plano e fazendo-a expressão física e simbólica dos alicerces da modernidade. As áreas da medicina e da educação também adotavam medidas de mesmo cunho, integrando um projeto amplo de construção da nação através do progresso, implementando de forma marcadamente autoritária e elitista.
O Saber para Prever, a Fim de Prover - a engenharia de um Brasil Moderno
Tipo de Material
Artigo de Periódico
Autor Principal
Kropf, Simone Petraglia
Título do periódico
A Invenção do Brasil Moderno - medicina, educação e engenharia nos anos 20-30,
Volume
pp.202-223
Ano de Publicação
1994
Local da Publicação
Rio de Janeiro ^b ROCCO
Idioma
Português
Resumo
Autor do Resumo
Natália
Disciplina
Área Temática
Referência Espacial
Cidade/Município
Rio de Janeiro
Brasil
Habilitado
UF
Rio de Janeiro